Quem nunca desligou a rádio quando ouviu uma música que trouxe angústia? Ou nunca mudou a rota para evitar esbarrar com uma lembrança?

O depoimento abaixo é um retrato da vivência que muitos enlutados passam todos os dias:

“As pessoas a minha volta achavam estranho que eu evitasse a Rua das Palmeiras. Afinal, era o caminho mais rápido para chegar ao meu trabalho. O que muitos nem sempre sabiam, era que aquela rua também havia sido a morada do meu pai durante os 5 anos antes dele falecer. E me doía tanto passar por ali...

Me lembro uma vez em que dentro do carro, e atrasada para um compromisso, o taxista me olhou surpreso quando eu pedi que pegasse o caminho mais demorado para o meu destino – e evitasse a Rua das Palmeiras.

Ele ficou surpreso, assim como todos ficavam. Aquele olhar de estranhamento que eu vi no espelho do retrovisor já era um velho conhecido...

A sensação de ter que me explicar o tempo para os olhares de “tem algo errado com você”, às vezes, é o que desgasta mais. “

- M.F. 27 anos

Esse é o depoimento de uma pessoa que, como muitos de nós, muda a rotina para evitar sofrer mais.

Você também já passou por alguma situação assim?

Talvez no seu caso, tenha sido a rua que leva até a escola, a casa ou o trabalho de quem você ama. Talvez seja a praça aonde vocês se viram pela primeira vez, as músicas preferidas dele ou dela, ou as mensagens arquivadas no telefone.

De qualquer forma, evitar certas coisas é mais natural do que imaginamos. Ainda mais, em um primeiro período.

E por que evitamos?

A nossa memória emocional está muito ligada aos sentidos: músicas, ruas, lugares e até situações. Por isso, se você respondeu que sim, saiba que é normal querer evitar coisas e pessoas que nos lembrem quem não temos mais perto de nós.

É o mesmo mecanismo que ocorre quando evitamos uma rua que sabemos que fica engarrafada. Não queremos nos colocar em situações que nos machucam, se existe uma escolha.

E está tudo bem.

Afinal, quem convive com o Luto, convive com ele 24h por dia. Ele já é dolorido demais para que a gente se coloque em situações que vão trazer mais angústias.

É importante lembrar que o contrário também é verdadeiro: existe um grupo de enlutados que sente bem ao relembrar as pessoas que ama revisitando lugares, mensagens e músicas.

E está tudo bem também.

Fazer isso, então, é normal?

Ter atitudes como essa não só é normal, como é saudável para você. Quando você faz isso, está respeitando os seus próprios limites.

É importante ter em mente que parte crucial do processo individual é que você entenda e respeite até onde consegui ir. Jamais se force a algo que não tem vontade.

Infelizmente, quem vê de fora, normalmente acha esquisito. A resposta típica “nossa, que besteira” machuca muito, principalmente quando vem de pessoas que sabem o que estamos vivendo.

Quantos vezes você, como a moça do depoimento, esbarrou com aquele olhar de “nossa, que exagero” quando pediu para trocar uma música que estava tocando no rádio porque te lembrava a pessoa que você ama?

Não tem nada de errado com você, você só está vivendo o Luto. E como muitas pessoas também estão vivendo, você não está sozinho.

É por isso que, quanto mais conversamos sobre assuntos como esse, mais pessoas se sentirão acolhidas e compreendidas.

As atitudes que temos durante o Luto não deveriam requerer explicações, apenas acolhimento.

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E você? Existe algo que você evita? Ou tem lugares que visita com frequência? Conta pra gente.


Fontes:

https://whatsyourgrief.com/avoidance-in-grief/ 

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