Às vezes a dor é tanta que não existem palavras para expressá-la.

A Arteterapia é uma forma de entrar em contato com sentimentos sem precisar colocar eles em palavras.

O desenho, a música, a dança e outras expressões criativa são veículos que ajudam a trazer para a luz e para consciência aquilo que, muitas vezes, queremos negar.

O uso da arte para o tratamento de doenças psíquicas, graças a sua precursora no Brasil, Nise da Silveira, também foi de grande ajuda na substituição de métodos desumanos para tratar doenças de ordem psiquiátrica em manicômios.

Apesar de enfrentar grande preconceito da comunidade científica na época, o método como forma de transformação provou-se uma forma mais humana de reabilitação e promoção da cura.

Hoje, a Arteterapia é uma ferramenta a mais dentro do processo terapêutico individual e que pode ser usada em diferentes grupos, idades e tratamentos.

Ela é, principalmente, usada com crianças. Por isso, no Horizontes Infantil trabalhar com o lúdico é tão importante.

O texto abaixo, de Fabricio Carpinejar, é um exemplo lindo da arte como veículo para a transformação da dor:

"Minha amiga Dora perdeu seu filho.

Ela disse que o momento mais difícil do luto foi quando ela riu de uma piada durante jantar entre amigas. Já havia completado dois anos do acidente e um ano que limpara o quarto do adolescente e oferecera suas roupas e pertences para campanha do agasalho.
Não conteve o riso, ele veio, cristalino, por uma história boba. Ela se penalizou pela alegria, acreditou que traía seu filho com a gargalhada, que não poderia mais ser feliz depois da tragédia familiar, que deveria seguir com a feição contraída e casmurra para homenagear a tristeza e avisar aos outros da longevidade e importância de sua ferida.
A lealdade tinha que ser séria, ornada de renúncias. Para indicar que a viuvez de ventre é definitiva, com o berço dos olhos petrificado em jazigo.
Ela se sentiu culpada por rir, envergonhada perante os céus, pediu desculpa ao filho, prometeu que estaria mais concentrada dali por diante e que o descontrole não se repetiria.
Mas ela quebrou a palavra, e riu novamente, como é próprio da vida superar o pesar de repente. Seu rosto agora participava da conversa com todas as rugas e covas. Bateu vontade de cobrir os lábios de batom para brilhar inteira.
Dora me segredou uma frase pura, que guardei na caixinha de sapatos de minha infância:
– Foi uma injustiça meu filho morrer, mas não poderia deixar a morte de meu filho me matar.
Doralice sempre me surpreendeu pela sua lucidez. Foi minha professora de matemática na Escola Estadual Imperatriz Leopoldina. Na última semana, passei pela frente de sua casa no bairro Petrópolis e arrisquei apertar sua campainha. Ela me recebeu com um longo abraço e me convidou a entrar. Reparei que pintava na varanda.
– Começou a pintar, Dora?

– Eu? Não...

– O que é essa tela? (eu me aproximei da moldura que reproduzia uma praia no inverno)

– Ah, é minha dor que estava pintando, coloquei minha dor a se mexer, a aprender algo de útil, e parar de me incomodar.

E concordei com seu raciocínio. Quantas vezes abandonamos nossa dor no sofá, vadia, assistindo TV? Quantas vezes permitimos que ela fique o dia inteiro dormindo, lembrando bobagens? Nossa dor sozinha, sem emprego, sem fazer nada, desejando morrer no escuro. Nossa dor comendo às nossas custas, terminando com os nervos, o casamento, as amizades.

Dor é feita para trabalhar, senão adoecemos no lugar dela."

- Um filho que se foi, de Fabricio Carpinejar

A Arteterapia ou Terapia Ocupacional, como chamava Nise da Silveira, trabalha as dores psicológicas, ao invés de reprimi-las. O último pode levar ao Luto crônico e outras doenças.

De acordo com Marileide Santana, em seu estudo “O LUTO E SUAS FASES: A ARTETERAPIA COMO FERRAMENTA NO PROCESSO TERAPÊUTICO DO ENLUTAMENTO”, através da arte “o indivíduo consegue mudar o olhar como ele percebe o mundo e a si mesmo, além de também conseguir examinar a forma como esse olhar é direcionado seja trabalhando com pintura, argila, palavras, desenho, música, dança, o indivíduo constrói um mundo de símbolos que libera emoções e ideias que são representadas por pensamentos e sentimentos.”

Uma coisa é certa: a dor precisa ser trabalhada. Negar o sofrimento faz com que ele se aproprie da vida que nos resta, aos poucos. Já expressá-lo, de qualquer forma, diminui sua força, além de contribuir para a cura e honrar quem já se foi.

Obs.: Essa forma de Terapia deve ser trabalhada com o apoio de um profissional especializado.

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Fontes:

http://carpinejar.blogspot.com.br/2011/09/um-filho-que-se-foi.html

https://www.infoescola.com/psicologia/terapia-do-luto/

https://app.uff.br/riuff/bitstream/1/12391/1/TCC%20MARILEIDE%20DE%20SANTANA.pdf

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